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sexta-feira, 2 de maio de 2008

Autoridade da Primeira Pessoa

Dorit Bar-On, em "Avowals and First Person Privilege" (Philosophy and Phenomenological Reasearch, vol. 62, n. 2, 2001, pp. 311-35), chama atenção para um importante aspecto do nosso modo ordinário de tratar as auto-atribuições de estados mentais: a autoridade da primeira pessoa não é como a autoridade que atribuímos a especialistas em um determinado assunto. A autoridade de um especialista é contingente: é possível ser um usuário competente e sincero da linguagem na qual se atribui as propriedades que são objeto de conhecimento do especialista sem ser um especialista. Um usuário competente de "F" pode não ser confiável para decidir se algo é ou não é F. Mas nosso tratamento ordinário das auto-atribuições de estados mentais tende a eliminar essa possibilidade. Um sujeito cujas auto-atribuições parecessem ser sistematicamente falsas seria, na verdade, alguém que não é competente no uso da linguagem por meio da qual ele realiza essas auto-atribuições (p. 319).

sábado, 25 de agosto de 2007

Quine e a distinção De Re/De Dicto

Quine (em 1956) acreditava que a interpretação de re da frase (1)

(1) João acredita que alguém é espião.
implica contradição. A interpretação de re de (1) pode ser formulada assim:
(2) Alguém é tal que João acredita que ele é um espião. [Existe um x(João acredita que x é um espião)]
A frase (2) diz de um determinado indivíduo que ele tem a propriedade de ser considerado espião por João. A interpretação de dicto pode ser formulada assim:
(3) João acredita que há espiões. [João acredita que existe um x(x é um espião)]
A frase (3) não diz de um determinado indivíduo que ele tem a propriedade de considerado espião por João. Intuitivamente, perece correto afirmar que (3) pode ser verdadeira e (2) falsa. Se o indivíduo em questão for Pedro, João pode acreditar que há espiões e não acreditar que Pedro seja um espião. De acordo com a interpretação padrão dos quantificadores, a interpretação objetual, a frase (2) requer que a frase aberta “João acredita que x é um espião” seja verdadeira de um indivíduo, independentemente do modo como esse indivíduo é designado. Quine acreditou que isso não é possível. Suponhamos que João saiba que Pedro é o prefeito da cidade e acredite que o prefeito da cidade não seja espião. Agora suponhamos que Pedro esteja próximo de João, no escuro, de tal forma que João não saiba quem está lá e suspeite que se trata de um espião. Nesse caso, a frase (4)
(4) João acredita que ele [apontando para o homem no escuro] é um espião.
é verdadeira e a frase (5)
(5) João acredita que o prefeito é um espião.
é falsa. Mas, se isso é o caso, então é porque em (4) Pedro é designado por meio de “ele [apontando para o homem no escuro]” e em (5) ele é designado por “o prefeito”. Logo, a frase aberta “João acredita que x é um espião” não é verdadeira de Pedro independentemente do modo como Pedro é designado por João. Ela é verdadeira quando o argumento é “ele [apontando para o homem no escuro]”, mas é falsa quando o argumento é “o prefeito”. Portanto, (2) é uma frase absurda.

Todavia, Quine não achou que esse argumento fosse um apoio à crença na existência de entidades intensionais, as “criaturas da escuridão” (p. 357). Ao invés de falar de proposições acreditadas, deveríamos falar de frases consideradas verdadeiras. O problema é que isso parece impedir a atribuição de atitudes proposicionais a animais que não possuem linguagem, na medida em que a atitude proposicional parece ser com relação a frases. A solução que ele dá para esse problema é, no mínimo, estranha:

Podemos tratar o medo do camundongo como o medo de que uma certa frase do português seja verdadeira. Isso não é natural sem ser, por isso, errado. É um pouco como descrever a corrente oceânica pré-histórica como anti-horária. [p. 360]
Isso parece estranho porque parece implicar que o camundongo pode temer que uma frase do português seja verdadeira mesmo que o português, ou qualquer outra linguagem, não exista no mesmo tempo em que o camundongo existe. Todavia, não é estranho que a corrente oceânica gire no sentido anti-horário mesmo que nenhum relógio exista no tempo em que isso ocorre.

Referências

Quine, W.V. (1956). “Quantifiers and propositional attitudes”. in: MARTINICH, A.P. (ed.). (2001). The Philosophy of Language. 4ª edição. Oxford: Oxford University Press, pp. 355-60.

McKAY, T. & Nelson, M. (2005). “Propositional attitude reports”. Stanford Encyclopedia of Philosophy.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Book Symposia sobre The Magic prism

No vol. 74, n. 3 de Philosophy and Phenomenological Research, foi publicado um Book Symposia sobre The magic Prism, de Howard Wettstein (ver penúltimo post para trás). Os artigos são:
Précis of The Magic Prism
HOWARD WETTSTEIN

Practicing Magic
RICHARD FUMERTON

'Weak and strong directness: reference and thought'
GENOVEVA MARTI

Empty Names: Communicative Value without Semantic Value
MARGA REIMER

The ‘Magic’ of Reference
BARRY STROUD

Response to Fumerton, Marti, Reimer and Stroud
HOWARD WETTSTEIN
A Blackwell está fornecendo acesso gratuito por tempo limitado a alguns números dessa revista.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

(AP2) Atitudes Proposicionais

Retomando a objeção do Eduardo (cf. AP1):

Sejam as seguintes práticas,ambas legítimas:

(1) Descrever o que se passa na cabeça [de uma pessoa] (César e Alexandre)
(2) Dizer para uma quarta pessoa algo sobre as crenças [de uma pessoa] (Eduardo)

Qual das duas chamaremos de "atribuição de atitude proposicional"? Esse é o problema.


Essa pergunta está mal colocada. O que importa é saber se, em ao menos alguns casos, é relevante a representação que usamos para fazer uma atribuição de atitude proposicional. O Eduardo parece supor que uma resposta afirmativa se compromete com a tese que as atitudes proposicionais são coisas que "se passam na cabeça" daquele a quem atribuímos a atitude. Suponho que isso seja considerado um problema se "o que se passa na cabeça" é algo cuja identidade é independente do ambiente, o que estaria em conflito com o externalismo. Mas colocar o externalismo como premissa a essa altura é incorrer em petição de princípio.

Paul Horwich sugere que devamos admitir tanto crenças de re como crenças de dicto:

Russell claimed that a proposition consists of the very objects it is about. For exemple
(9) the proposition that Hesperus is visible
would made up of the object, Hesperus, and the property of being visible. If Russell was right then, since 'Hesperus' and 'Phosphorous' have turned out to be two names for the same planet, then
(10) the proposition that Phosphorous is visible

is the very same proposition as (9). But how, in that case, do we account for the fact that someone may be aware - as we say, de dicto - that Hesperus is visible and not that Phosphorous is? In light of this problem, Frege claimed that the proposition expressed by a sentence (what he called a 'thought') is composed of the senses, rather than the references, of its constituent words. So (9) and (10) would be different from one another. But if he was right, then the so called de re beliefs become problematic. For surely the discovery about a certain object that it is Phosphorous does not consist in a relation between the believer and the tautologous Fregean proposition, [Phosphorous is Phosphorous]! The later belief is trivial whereas the former is not.

One way of dealing with these problems is to acknowledge the existence of both Fregean and Russellian propositions - the first being the objects of de dicto belief, and the second of de re belief. [Truth, p. 94]

sexta-feira, 8 de dezembro de 2006

(AP1) Atitudes proposicionais

Eis um balanço de uma discussão com o Eduardo e com o César que desembocou na pergunta: o que é uma atitude proposicional?

Uma atitude proposicional é o que quer que torne verdadeira uma frase da forma

x F que p

onde x é o sujeito da atitude proposicional, F é a atitude e que p é aquilo em relação ao qual x tem atitude F (p.ex.: 'Alexandre acredita que nem todos concordam com o que ele diz'). Mas o que torna uma frase dessa forma verdadeira? Qual é a ontologia das atitudes proposicionais? No caso do exemplo recém mencionado, a atitude é a crença, um estado subjetivo. Mas que tipo de estado é a crença? A crença é uma atitude em relação ao quê (qual é seu objeto)? Prima facie, uma crença é um estado mental que, também prima facie, pode ser atribuído a seres que não possuem linguagem, como cães e gatos, p.ex. Mas, se for assim, então o objeto da atitude proposicional não pode ser uma entidade essencialmente lingüística. Restam duas alternativas: (i) uma entidade (seja mental, seja abstrata) que representa um determinado estado de coisas e que pode ser expressa por uma frase indicativa ou (ii) esse próprio estado de coisas (seja lá isso o que for). Podemos chamar (i) de análise intensional da crença (César) e (ii) de análise extensional (Eduardo). Se optarmos por uma análise intensional, então a identidade da crença não será determinada pela identidade do estado de coisas representado, mas pela representação. Por exemplo (que figurou na discussão com o Eduardo e com o César): se a=b e S1 não sabe que a=b, então S1 poderia acreditar que ~(a=b) sem que isso fosse o mesmo que acreditar que ~(a=a), embora o estado de coisas representado nas crenças que ~(a=b) e que ~(a=a) seja o mesmo. Se optarmos por uma análise extensional, então as crenças que ~(a=b) e que ~(a=a) são as mesmas, pois representam o mesmo estado de coisas.

O que há a favor da análise extensional? De acordo com a linguagem ordinária, muitas vezes é irrelevante a representação que usamos para atribuir crenças. Se S2 e S3 sabem que a=b e S1 acredita que Fa, então S2 pode dizer a S3 que S1 acredita que Fb. O que há contra a análise extensional? Duas coisas, no mínimo: (1) ou (1.1) seremos obrigados a atribuir crenças irracionais às pessoas (que S1 acredita que ~(a=a), p.ex.), ou, para evitar (1.1), (1.2) seremos obrigados a dizer que algumas vezes as pessoas estão iludidas que têm uma crença (o que, em última análise, é a falsidade de uma crença de segunda ordem), quando ordinariamente diríamos que elas a têm; além disso, (2) de acordo com a linguagem ordinária, muitas vezes é relevante a representação que usamos para atribuir crenças, como no caso daquele que acredita que ~(a=b) quando é o caso que a=b. (Quando digo ‘de acordo com a linguagem ordinária’ ou ‘ordinariamente’ quero apenas chamar atenção para o que é mais intuitivo, a fim de determinar o ônus da prova.)

Nesse ponto, Eduardo disse:

Sejam as seguintes práticas,ambas legítimas:

(1) Descrever o que se passa na cabeça [de uma pessoa] (César e Alexandre)
(2) Dizer para uma quarta pessoa algo sobre as crenças [de uma pessoa] (Eduardo)

Qual das duas chamaremos de "atribuição de atitude proposicional"? Esse é o problema.

Mas como devemos entender a relação entre (1) e (2)? (continua)