Quine (em 1956) acreditava que a interpretação de re da frase (1)
(1) João acredita que alguém é espião.implica contradição. A interpretação de re de (1) pode ser formulada assim:
(2) Alguém é tal que João acredita que ele é um espião. [Existe um x(João acredita que x é um espião)]A frase (2) diz de um determinado indivíduo que ele tem a propriedade de ser considerado espião por João. A interpretação de dicto pode ser formulada assim:
(3) João acredita que há espiões. [João acredita que existe um x(x é um espião)]A frase (3) não diz de um determinado indivíduo que ele tem a propriedade de considerado espião por João. Intuitivamente, perece correto afirmar que (3) pode ser verdadeira e (2) falsa. Se o indivíduo em questão for Pedro, João pode acreditar que há espiões e não acreditar que Pedro seja um espião. De acordo com a interpretação padrão dos quantificadores, a interpretação objetual, a frase (2) requer que a frase aberta “João acredita que x é um espião” seja verdadeira de um indivíduo, independentemente do modo como esse indivíduo é designado. Quine acreditou que isso não é possível. Suponhamos que João saiba que Pedro é o prefeito da cidade e acredite que o prefeito da cidade não seja espião. Agora suponhamos que Pedro esteja próximo de João, no escuro, de tal forma que João não saiba quem está lá e suspeite que se trata de um espião. Nesse caso, a frase (4)
(4) João acredita que ele [apontando para o homem no escuro] é um espião.é verdadeira e a frase (5)
(5) João acredita que o prefeito é um espião.é falsa. Mas, se isso é o caso, então é porque em (4) Pedro é designado por meio de “ele [apontando para o homem no escuro]” e em (5) ele é designado por “o prefeito”. Logo, a frase aberta “João acredita que x é um espião” não é verdadeira de Pedro independentemente do modo como Pedro é designado por João. Ela é verdadeira quando o argumento é “ele [apontando para o homem no escuro]”, mas é falsa quando o argumento é “o prefeito”. Portanto, (2) é uma frase absurda.
Todavia, Quine não achou que esse argumento fosse um apoio à crença na existência de entidades intensionais, as “criaturas da escuridão” (p. 357). Ao invés de falar de proposições acreditadas, deveríamos falar de frases consideradas verdadeiras. O problema é que isso parece impedir a atribuição de atitudes proposicionais a animais que não possuem linguagem, na medida em que a atitude proposicional parece ser com relação a frases. A solução que ele dá para esse problema é, no mínimo, estranha:
Podemos tratar o medo do camundongo como o medo de que uma certa frase do português seja verdadeira. Isso não é natural sem ser, por isso, errado. É um pouco como descrever a corrente oceânica pré-histórica como anti-horária. [p. 360]Isso parece estranho porque parece implicar que o camundongo pode temer que uma frase do português seja verdadeira mesmo que o português, ou qualquer outra linguagem, não exista no mesmo tempo em que o camundongo existe. Todavia, não é estranho que a corrente oceânica gire no sentido anti-horário mesmo que nenhum relógio exista no tempo em que isso ocorre.
Referências
Quine, W.V. (1956). “Quantifiers and propositional attitudes”. in: MARTINICH, A.P. (ed.). (2001). The Philosophy of Language. 4ª
McKAY, T. & Nelson, M. (2005). “Propositional attitude reports”. Stanford Encyclopedia of Philosophy.
Acho que você quis dizer "entidades intencionais". Aí está escrito "entidades intensonais".
ResponderExcluirExato. Obrigado pela correção.
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