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quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

(AP2) Atitudes Proposicionais

Retomando a objeção do Eduardo (cf. AP1):

Sejam as seguintes práticas,ambas legítimas:

(1) Descrever o que se passa na cabeça [de uma pessoa] (César e Alexandre)
(2) Dizer para uma quarta pessoa algo sobre as crenças [de uma pessoa] (Eduardo)

Qual das duas chamaremos de "atribuição de atitude proposicional"? Esse é o problema.


Essa pergunta está mal colocada. O que importa é saber se, em ao menos alguns casos, é relevante a representação que usamos para fazer uma atribuição de atitude proposicional. O Eduardo parece supor que uma resposta afirmativa se compromete com a tese que as atitudes proposicionais são coisas que "se passam na cabeça" daquele a quem atribuímos a atitude. Suponho que isso seja considerado um problema se "o que se passa na cabeça" é algo cuja identidade é independente do ambiente, o que estaria em conflito com o externalismo. Mas colocar o externalismo como premissa a essa altura é incorrer em petição de princípio.

Paul Horwich sugere que devamos admitir tanto crenças de re como crenças de dicto:

Russell claimed that a proposition consists of the very objects it is about. For exemple
(9) the proposition that Hesperus is visible
would made up of the object, Hesperus, and the property of being visible. If Russell was right then, since 'Hesperus' and 'Phosphorous' have turned out to be two names for the same planet, then
(10) the proposition that Phosphorous is visible

is the very same proposition as (9). But how, in that case, do we account for the fact that someone may be aware - as we say, de dicto - that Hesperus is visible and not that Phosphorous is? In light of this problem, Frege claimed that the proposition expressed by a sentence (what he called a 'thought') is composed of the senses, rather than the references, of its constituent words. So (9) and (10) would be different from one another. But if he was right, then the so called de re beliefs become problematic. For surely the discovery about a certain object that it is Phosphorous does not consist in a relation between the believer and the tautologous Fregean proposition, [Phosphorous is Phosphorous]! The later belief is trivial whereas the former is not.

One way of dealing with these problems is to acknowledge the existence of both Fregean and Russellian propositions - the first being the objects of de dicto belief, and the second of de re belief. [Truth, p. 94]

6 comentários:

  1. Oi Alexandre

    As perguntas não visam tanto as dificuldades postas, pelo Horwich, para um russelliano e para um fregeano. Considere-as como pedidos de esclarecimentos, sobretudo em torno da tua afirmação de que Horwich sugere que devamos admitir crenças *de re* e crenças *de dicto*. Salvo engano, poucos fregeanos e poucos russellianos negariam isso (p.ex., um fregano poderia muito bem incorporar à sua teoria modos de apresentação *de re*, que não seriam os modos de apresentação que são se não existissem os objetos de que eles são os modos de apresentação).

    Suponha que um russelliano afirme:

    (1) Creio que a é F.

    Se ele for um russelliano que acredite em proposições russellianas , (1) expressa uma crença *de re* ou uma crença *de dicto*? Que diferença há, se é que há, para tal russelliano, entre (1) e

    (2) Creio, de a, que ele é F?

    Suponha, agora, outro russelliano, um que não creia em proposições russellianas, e que afirme:

    (3) Creio que O F é G.

    Para tal russelliano, essa crença não pode ser *de re* ou *de dicto*?

    Abraços,
    Giovani.

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  2. Giovani,

    Estava esperando teu comentário, :-) Vamos primeiro ver como se deve entender "crença de re" e "crença de dicto" aqui. Essas expressões não são livres de ambiguidades e Horwich não oferece uma explicação explícita de como ele as entende. Mas acho que está entendedo-as semanticamente. Uma crença é semanticamente de re quando ela permite substituição salva veritate, caso contrário, é uma crença de dicto. Isso se mostra quando ele diz que S pode estar ciente - de dicto - de que (9) é verdadeira sem estar ciente de que (10) é verdadeira. Nesse caso, a proposição

    (i) S acredita que (9) é verdadeira

    não implica a proposição

    (ii) S acredita que (10) é verdadeira

    e, por isso, (i) não pode ser substituída por (ii) salva veritate.

    Tu então perguntas: não pode haver sentidos (modos de apresentação) de re? Tu definies "sentido de re" dizendo que a identidade do sentido de re dependeria da existência dos objetos que eles apresentam. Mas tenho dificuldade em entender por que isso o qualificaria como um sentido de re. Suponha que os sentidos dos nomes "Hesperus" e "Phosohrous" dependem da existência daquilo que eles nomeiam. Mas isso ainda é compatível com o fato de ambos serem sentidos diferentes. E se são diferentes, então (i) e (ii) não são intersubstituíveis salva veritate. Mas suponhamos que o que tu quiseste dizer é que a identidade do sentido de re dependeria não da existência dos objetos que eles apresentam, mas da identidade desses objetos. Nesse caso, se os sentidos de "Hesperus' e "Phosphorous" fossem de re, (i) e (ii) seriam intersubstituíveis salva veritate. E aparentemente isso daria conta de casos como aquele em que se descobriu de um certo objeto que ele é Phosphorous. Mas como isso acontece? Qual é a proposição que expressa essa descoberta? Certamente não é "Phosphorous é Phosphorous" se em ambas ocorrências "Phosphorus" têm o mesmo sentido. Certamente não é "Hesperus é Phosphorous", se "Hesperus" e "Phosphorous" têm sentidos de re. Certamente não é "Esse objeto é Phosphorus", se "esse objeto" e "Phosphorus" têm sentidos de re.

    Meus comentários sobre os russellianos fica para a próxima.

    Abraços.

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  3. Giovani,

    Para um russelliano que acredita em proposições russellianas, as as crenças

    (1) Creio que a é F
    (2) Creio, de a, que ele é F

    são intersubstituíveis salva veritate?

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  4. Alexandre

    Sentido *de re* é uma das variedades – digamos assim, para lembrar de um dos filósofos responsáveis por atribuir a Frege tal noção, a saber, Evans (antes de Evans, McDowell, em “On the Sense and Reference of a Proper Name”, trabalha com essa noção) – é uma das variedades, dizia, de sentido. Algumas expressões – tais como indexicais e demonstrativos - quando usadas expressam sentidos *de re*, i.e., se não há o referente, não há o sentido (a expressão não tem conteúdo). Esse parece ser um ponto que Horwich concede, talvez sem perceber, quanto alega que o fregeano não teria como dar conta da ‘discovery about a certain object that it is Phosphorous’ (sem ter que admitir que crê em algo como a=a). Ele teria.

    Queres intersubstituir o que pelo que? Suponho que seja o termo singular “a”. (“Creio que a é F” é suscetível ainda de uma outra interpretação: “Creio, de F, que ele é uma propriedade de a”. Mas podemos ignorar isso.) Nesse caso, a resposta é claramente não. Posso acreditar, do mais rico dos homens – digamos, Bill Gates -, que ele é pobre. Entretanto, a frase (3) pode muito bem ser falsa:

    (3) Creio que Bill Gates é pobre.

    A frase (4), por hipótese, e verdadeira.

    (4) Creio, de Bill Gates, que ele é pobre.

    Supondo que a tua pergunta seja se as crenças expressas por (1) e (2) são intersubstituíveis, me parece mais claro que não. Assim, parece que um russelliano poderia, pelos padrões de Horwich,aceitar crenças *de re* e crenças *de dicto* (o que seria conceder, novamente, o meu ponto).
    Mas há outras complicações. Suponha que os nossos russellianos não concebam nenhuma diferença categorial entre proposições, objetos e conceitos. (Vê se pode!) Te devolvo, então, minhas perguntas, e acrescento outra: intersubstitutibilidade é o único elemento para distinguir crenças *de re* e *de dicto*? :-)

    Um grande abraço,
    Giovani.

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  5. Giovani,

    Antes de mais nada, deixe-me dizer que não citei Horwich a fim de corroborar o que ele diz sobre Russell e Frege, mas apenas para apresentar uma sugestão para um problema. Se Russell e Frege estão de acordo com essa sugestão, então tudo bem. Mas isso, repito, era secundário.

    Todavia, há algumas coisas no teu comentário que não entendo. Peço que também encares o que se segue como pedidos de esclarecimento.

    1. Do modo como defines sentido de re, ninguém negaria que há sentido de re; ao menos não se entendemos "ter conteúdo" como "ser compreensível". Ninguém negaria que um demosntrativo não tem conteúdo se não se referir a algo existente. Mas nem todos diriam que demonstrativos tem sentido fregeano.

    2. Não entendi como o fato de Horwich alegar "que o fregeano não teria como dar conta da ‘discovery about a certain object that it is Phosphorous’ (sem ter que admitir que crê em algo como a=a)" mostra que ele concede que há sentidos de re tal como defines.

    3. Pelas razões que ofereci no meu último comentário, ainda não vejo como o sentido de re possa ser relevante para a questão que eu discutia. A questão era: qual é o objeto das atitudes proposicionais,"(i) uma entidade (seja mental, seja abstrata) que representa um determinado estado de coisas e que pode ser expressa por uma frase indicativa ou (ii) esse próprio estado de coisas (seja lá isso o que for)"? (cf. AP1)

    4. Se

    (1) Creio que a é F.

    e

    (2) Creio, de a, que ele é F


    não são intersubstituíveis, então ao menos uma delas é uma crença semanticamente de dicto, certo?

    5. Até onde posso ver, a definição semântica da distinção de re/de dicto,baseada na noção de substituição salva veritate, é suficiente para a discussão original. Como disse, as expressões "crença de de re" e "crença de dicto" não são livres de ambiguidades.

    Não achas melhor (mais prático) continuar a discussão por email?

    Grande abraço

    Alexandre

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  6. Alexandre

    Seguimos, então, por email.
    Abração
    Giovani.

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