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sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

(DC15) A problemática do método da dúvida

Broughton mostra que devemos distinguir e considerar as seguintes questões para realizar uma boa interprteação do método da dúvida:
(1) O que é a dúvida cartesiana (que compõe o método da dúvida)? Se opõe à crença razoável? Implica que aquele que duvida abandona as crenças razoáveis durante a aplicação do método?

(2) Qual é a motivação para a dúvida? É uma estratégia razoável para a obtenção de certezas absolutas (fundamentos da ciência)? É uma epistemologia prévia que equaciona conhecimento e indubitabilidade?

(3) Qual e a justificação para a motivação para a dúvida? Não há objeções à motivação para a dúvida?

Parte do meu problema abrange essas três perguntas. Para julgar se a dúvida cartesiana é inteligível devemos saber se a explicação do que ela é é inteligível, se sua motivação é inteligível e se o que é oferecido como justificação para essa motivação é inteligível e realmente a justifica.

5 comentários:

  1. Parte da resposta está no "Resumo" das Meditações, onde Descartes opõe sua investigação, de natureza metafísica, às atitudes cognitivas dos homens de bom senso (AT ix-1 12). Esse é um dos motivos para os bons comentadores (já é tradicional) tratarem a dúvida das Meditações como dúvida metafísica. Uma boa fonte sobre o assunto é "Doute Méthodique ou Négation Méthodique?", cap. 1 de La Pensée Métaphysique de Descartes, de Henri Gouhier.

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  2. César, obrigado pela dica. Sim, parte da resposta está lá. O problema é justamente esse: parte da resposta está lá. Temos que interpretar aquela passagem junto com as demais passagens em que Descartes fala sobre a dúvida. Em algumas ele parece estar dizendo que devemos suspender o juízo sobre as crenças razoáveis. Mas como posso suspender o juízo e continuar a nutrir as crenças razoáveis? O que significa aqui "suspender o juízo"? Dizer que a dúvida é metafísica, que não é uma dúvida ordinária, não responde a essa questão, pois não explica a relação entre a dúvida metafísica e as certezas ou crenças ordinárias razoáveis. Broughton tem uma resposta que, à primeira vista não me parece satisfatória (cf. DC14). Ela considera a opinião de Gouhier e, se me recordo bem, rejeita. Mas, por esses dias, não tenho tempo para conferir o seu argumento. Sabes qual é a proposta de Gouhier?

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  3. Sei que estou só jogando indicações bibliográficas sem me aprofundar muito, mas acho que a melhor coisa a ler sobre a relação entre dúvida e crença razoável é o clássico Demons, Dreamers and Madmen, do HG Frankfurt. Ao final do cap. 3, "O Critério da Dúvida", Frankfurt diz: "Na medida em que sua intenção é saber se e como um homem razoável pode encontrar um fundamento seguro para as ciências, quase não seria pertinente que ele começasse sua investigação adotando uma norma outra que a racional" (p. 45 da trad. francesa). A tese de Frankfurt, se não me engano, é que o meditador é um homem razoável, o qual se caracteriza por colocar em dúvida apenas aquilo que é razoável, em determinada circunstância, duvidar. A razão é a autoridade última (p. 43).

    Eu teria que reler Frankfurt. Minhas anotações da última leitura são muito ruins.

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  4. Fico devendo também o Gouhier. Vou aproveitar a oportunidade para reler alguns desses comentários clássicos, mas não agora. :-)

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  5. César, tuas indicações bibliográficas são muito bem-vindas. Apenas quis averiguar se tu poderias me adiantar alguma coisa do que está lá no que respeita a certos pontos específicos, pois esse fim de semestre está uma loucura. Não tenho tempo nem para me coçar.

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