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sábado, 2 de dezembro de 2006

Realismo metafísico e realismo de senso comum

Estou sentado na minha cadeira agora. Mas tu, que lês esse post agora, poderias estar sentado nela agora. Qualquer pessoa poderia estar sentada na minha cadeira agora. Mas essa última afirmação não implica que seria possível que todas as pessoas estivessem sentadas na minha cadeira agora. Temos, portanto, que distinguir entre:
Para toda pessoa P, é possível que P estivesse sentada na minha cadeira agora
(x)Pos.(Fx)

e
É possível que todas as pessoas estivessesm sentadas na minha cadeira
Pos.(x)(Fx)

E a mesma distinção deve ser traçada com respeito à relação entre verdade e conhecimento. Devemos distinguir as seguintes teses:
Para toda proposição p, é possível que p seja verdadeira e não saibamos que p é verdadeira.

e
É possível que todas as proposições sejam verdadeiras e não saibamos que são verdadeiras.

A primeira tese chamo realismo do senso comum e a segunda, realismo metafísico. Por quê? Porque o realismo do senso comum é compatível com uma certa dependência relativa da verdade em relação ao conhecimento. O realismo de senso comum ainda seria verdadeiro, mesmo que para que algumas proposições fossem verdadeiras, outras devessem ser conhecidas como verdadeiras, contanto que as proposições que devessem ser conhecidas como verdadeiras pudessem, digamos, revezar esse posto com outras e pudessem, elas mesmas, ser verdadeiras sem que se soubesse.

4 comentários:

  1. Veja bem, se o "realismo metafísico" diz:

    - "É possível que todas as proposições sejam verdadeiras e não saibamos que são verdadeiras."

    A única coisa que um realista (sem aspas) diria sobre isso é que se trata de uma posição filosófica um pouco gorda, fora de forma, com carnes e pelancas sobrando.

    O realista se compromete com algo mais fraco, mais "malhado", mais preciso:

    - Todas as proposições têm valor de verdade, quer tenhamos evidências dos mesmos, quer não.

    É o modo como Dummett define realismo em "The Justification of Deduction".

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  2. Ou seja, o realista diria:

    - Se não houvesse nenhuma proposição falsa, então todas as proposições são verdadeiras, não importando se conhecemos ou não seu valor de verdade.

    Isso é satisfatório logicamente e epistemologicamente.

    Logicamente, pois se, dado o realismo, toda proposição tem valor de verdade, independente do conhecimento do mesmo, e só há dois valores de verdade, verdeiro e falso, então se não houvesse nenhuma proposição falsa, todas seriam verdadeiras.

    Epistemologicamente, pois está de acordo com as aparências. Ao contrário do tal "realista metafísico", que por desleixo deixa no ar que todas as proposições poderiam ser verdaderias, o realista que enuncia a tese acima, como qualquer um de nós, conhece diversas proposições falsas, e não enuncia uma tese tão imprecisa.

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  3. César, eu realmente não sei a qual imprecisão estás te referindo.

    Dizer que toda proposição possui um valor de verdade determinado, ou o verdadeiro ou o falso, é enunciar o princípio da bivalência, que (pace Dummett), em si mesmo não é nem realista nem anti-realista. Mas quando dizemos que o princípio de bivalência é verdadeiro independentemente do conhecimento dos referidos valores de verdade, ai temos o que chamo de realismo metafísico. Mas veja: se a possse de um valor de verdade por parte dos portadores de verdade é independente do conhecimento desses valores de verdade, então o que impede concluir disso que é possível que todas as proposições (consistentes, é claro, se não somos dialeteistas) sejam verdadeira sem que saibamos que são verdadeira? Nâo exatamente isso que tu dizes aqui: "Se não houvesse nenhuma proposição falsa, todas as proposições são verdadeiras, não importando se conhecemos ou não seu valor de verdade"? É claro que o realista acredita que há proposições falsas. Mas, o que atribuo a ele é a crença de que seria possível que todas fossem verdadeiras ou -- todas falsas!

    Não quero entrar na polêmica sobre Dummett, que já sofreu algumas críticas que considero corretas (embora não todas).

    Meu post visa chamar atenção para uma ambiguidade na frase "a verdade é independente do conhecimento". Independentemente de ser correto atribuir uma das teses ao realista metafísico, concordas com a distinção?

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  4. O que ninguém nega é (A)

    (A) Todas as nossas proposições podem ser verdadeiras.

    O que está em disputa é se isso seria possível mesmo no caso em que não conhecêssemos o valor de verdade de qualquer dessas proposições. Mas se aceitamos (A) e interpretamos a bivalência de forma realista, então o que nos impede de aceitar (B)?

    (B) Todas as nossas proposições podem ser Falsa.

    E o que nos impediria de acreditar que (B) poderia ser verdadeira mesmo no caso em que não conhecêssemos o valor de verdade de qualquer dessas proposições?

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