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domingo, 15 de julho de 2007

Dissolver paradoxos filosóficos

O que emergiu do meu estudo dos paradoxos [puzzles] não foi o que eu esperava ou procurava. Lutar com os paradoxos durante anos me levou a pensar que se alguém realmente realiza o tipo de mudança gestáltica que estou advogando - que se alguém, por exeplo, realmente começa a pensar que a referência não necessita de nenhuma mediação cognitiva -, os fenômenos que anteriormente pareciam paradoxais [puzzling] parecem muito diferentes. Eles se acomodam no seu lugar sem absolutamente nenhuma explicação especial. Assim, afinal, quero dissipar a sensação de que há fenômenos paradoxais aqui, coisas que não deveriam parecer como parecem ser, a sensação de que estamos encarando várias idéias que parecem ao mesmo tempo corretas e incompatíveis.

Para usar um jargão, minha consideração não procura fornecer uma solução para os paradoxos clássicos. Ela procura antes dissolvê-los. Falar sobre dissolver paradoxos tem uma ressonância wittgensteiniana. Eu certamente não me importo com isso. Ao mesmo tempo, é importante para mim que não me produz a dissolver paradoxos, a fornecer uma terapia wittgensteiniana. Tampouco minhas conclusões são uma questão de aplicar uma espécie de idéia ou técnica terapêutica geral. É melhor não abordar paradoxos, aqui ou em em outro lugar, com a idéia de que eles devem ser dissolvidos. A questão é como melhor - mais naturalmente - pensar sobre os fenômenos que se alega serem paradoxais. A dissolução, se e quando ela ocorrer, resulta no reconhecimento de que a cãibra intelectual não era intrínseca ao exemplo, mas foi o produto de suposições desnecessárias trazida a ele.

A tendência do pensamento de Wittgenstein é supor - gosto de pensar nisso como uma hipótese ou conjectura - que muitos dos, senão todos, paradoxos filosóficos clássicos são produtos de concepções inadequadas dos domínios relevantes, de suposições desnecessárias e enganadoras trazidas para os casos alegadamente paradoxais. Esse suposição, é desnecessário dizer, não encoraja ignorar os paradoxos, tomando-se uma atitude dispensadora. Paradoxos mostram-se cruciais, como Russell ensinou. Mas, contrário a Russell, eles não desempenham o papel de experimentos. Eles são antes sintomas que anunciam um quadro subjacente inadequado. A idéia não é deixar o quadro intocado e usar engenhosidade teórica para criar uma saída. O quadro subjacente é o que necessita nossa atenção.

-- H. Wettstein, The Magic Prism, pp. 16-17

Não pude deixar de citar essa passagem depois de relê-la. Wettstein é um bom exemplo, embora um tanto raro, de alguém que sofreu influência de Wittgenstein depois de ter se iniciado na filosofia em uma tradição de pensamento um tanto diferente. Hilary Putnam conta uma história semelhante envolvendo o Blue Book, de Wittgenstein.

6 comentários:

  1. Interessante o texto. Mas nao sei se entendi direito, pois nunca pensei a respeito (embora agora pense que já deveria ter levado este problema em consideraçao há muito tempo). Para entender, gostaria de mais referências de autores que acreditam realmente que um paradoxo pode ser dissolvido, para que eu possa entender melhor. Se você puder me ajudar, eu ficaria grata, pois realmente achei a questao interessante. Acho que conheço apenas autores (comentadores, em especial)que buscam dissolver enganos quanto a aparentes paradoxos, mas quanto a paradoxos que lhes parecem reais nao (No máximo, fazem uma investigaçao para saber se algumas afirmaçoes sao paradoxais ou nao). Nunca li nenhum que partisse do pressuposto que paradoxos devem ser dissolvidos. Provavelmente minha pergunta é besta, pois sou leiga no assunto, mas antes ela do que eu!! hahaha... se eu estiver sendo besta, que eu consiga uma ajuda para deixar de ser... Obrigada e abraço.

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  2. Wettstein não defende que todo paradoxo pode ser dissolvido. Mas ele acredita que alguns podem. Mas vamos ver o que ele está entendendo por paradoxo. Paradoxo, de forma geral, é a aparente incompatibilidade entre duas crenças muito fundamentais, ou seja, que parecem verdadeiras. Mas se são incompatíveis, não podem ser ambas verdadeiras. A dissolução do paradoxo se dá então por meio da exibição de uma suposição "desnecessária e enganadora". Sendo assim, as perguntas que se originam a partir do paradoxo não são respondidas, mas simplesmente abandonadas. A dissolução mostra que alguma suposição falsa ou injustificada ou absurda estava gerando a impressão de que as crenças fundamentais eram incompatíveis, Como o próprio Wettstein diz, Wittgenstein é o pai da criança. Ele é quem desenvolveu essa ideia mais sistematicamente. Na minha postagem "Bem em si e o bem que podemos realizar" (http://problemasfilosoficos.blogspot.com.br/2013/03/bem-em-si-e-o-bem-que-podemos-realizar.html) é um exemplo (se o argumento ali é bom) de dissolução de um paradoxo.

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    1. Por isso que eu nunca pensei nisso, fico distraída no século XVI e anteriores...rsrsr. Vou ler seu outro texto e, em outra ocasiao, o pai da criança. Obrigada.

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    2. Eu que agradeço pelo espaço dado à minha pergunta e, principalmente, a atençao em tentar respondê-la! Muito bom seu espaço de reflexao aqui, vou começar a frequentar mais, na medida em que minha dissertaçao me deixar...rsrsrs. Li seu texto indicado e realmente ele sanou minha dúvida quanto a este aqui... mas me apareceu outra quanto a ele..rsrs.. Tentar entender uma questao filosófica parece cortar uma cabeça da Hidra... rsrs..

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    3. Por nada, querida. Volte sempre e comente à vontade. Eu me beneficio muito das perguntas feitas aqui. Sim, as perguntas vão se multiplicando, O ganho certo é um entendimento mais profundo, no sentido em que ele nos permite fazer perguntas que antes não éramos capazes de fazer. Seja como for, creio que, com relação a isso, a diferença entre a filosofia e a ciência é apenas de grau.

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