John Searle, em uma entrevista para Reason, diz:
Com Derrida, você dificilmente pode lê-lo mal, pois ele é muito obscuro. Toda vez que você diz "Ele disse isso e aquilo", ele sempre diz "Você me entendeu mal". Se você tentar formular a interpretação correta, então isso não é tão fácil. Eu uma vez disse isso a Michel Foucault, que era mais hostil a Derrida que eu, e Foucault disse que Derrida praticava o método do obscuratisme terroriste (obscurantismo terrorista). Falávamos francês e eu disse: "Que diabos vocês quer dizer com isso?". E ele disse: "Ele escreve tão obscuramente que você não pode saber o que ele está dizendo. Essa é a parte obscurantista. E quando então você o critica, ele pode sempre dizer: 'Você não me entendeu; você é um idiota.' Essa é a parte terrorista." E eu gostei disso. Eu então escrevi um artigo sobre Derrida. Perguntei a Michel se estava bem se eu citasse essa passagem, e ele disse que sim.
Se Searle está certo ou não sobre Derrida, não quero discutir. Não tenho mesmo como fazer isso, pois não conheço os textos de Derrida, para saber se ele realmente faz o que Searle o acusa de fazer. Mas uma coisa me parece certa: há muita gente que, na academia (as instituições de ensino superior), faz aquilo que Searle acusa Derrida de fazer. Pior que isso. Não é muito difícil encontrar (e já encontrei, infelizmente) alguém que, frente a um pedido de um argumento ou justificação para alguma afirmação nada óbvia, ou de um esclarecimento, de explicação do significado de alguns termos ambíguos usados em uma discussão, acuse a gente de estar tendo má-vontade. Essa reação é errada, é claro, porque imuniza da crítica aquele que assim reage. É como aquele que acusa o crítico da psicanálise de ter resistência psicológica a ela. Essa é uma atitude flagrantemente desonesta, imoral. É um sinal de covardia intelectual.
(Vale a pena ler toda a entrevista de Searle.)
Foto: John Searle
Eu fico pensando no triste caráter psicológico do indivíduo que adota esta postura. Se, por um lado, ele se sente profundo em seus pensamentos em virtude da dificuldade alheia em entendê-lo, por outro lado, ele está fadado a sofrer a mais absoluta solidão, já que ninguém jamais ou quase nunca o compreende.
ResponderExcluirEu acho um preço caro a se pagar pela sensação de profundidade, já que o ser incompreendido é um sinal pouco confiável do ser realmente profundo. Então é triste que, além da solidão, esta pessoa viva um perpétuo auto-engano.
Claro, adotei a postura caridosa e não interpretei o comportamento desta pessoa como envolvendo má fé.
Oi Alexandre
ResponderExcluirO trecho da entrevista do Searle e as tuas observações me lembraram uma frase de um poeta que eu sei que gostas muito. Com a fina e doce ironia que o caracterizava, Mario Quintana disse: 'Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer é porque um dos dois é burro.' (O Trágico Dilema-- Caderno H)
O problema, eu acho, não é para aqueles que têm consciência de que um "trágico dilema" como esse pode ser mais corriqueiro do que a gente as vezes se dá conta. O problema, eu acho, é para aqueles que, como o Derrida -- supondo, é claro, que o Searle e o Foucault tenham razão acerca do Derrida (e eu também não faço ideia se é verdade...)-- só conseguem aceitar um dos "chifres" que o MQ nos apresenta, sobretudo que um dos "chifres" só pode se dirigir ao seu interlocutor.
Um grande abraço.
Eros: pois é, ou essa gente tem má fé, ou são uns infelizes.
ResponderExcluirGiovani: Fino modo de apresentar a situaçãp! Essa frase do Mário é mesmo genial. Grande abraço.
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