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sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Sub Specie Aeternitatis?

Nebulosa de Hélice, também conhecida como Olho de Deus

A leve pomba, enquanto, em seu livre vôo, corta o ar cuja resistência sente, poderia imaginar que ainda mais sucesso teria no vácuo. (Kant)
Não posso sair fora da linguagem com a linguagem. (Wittgenstein)
Somos como marinheiros obrigados a reparar o seu barco no alto mar, sem qualquer possibilidade de desmontar todas as peças e de o reconstruir em doca seca. (Neurath)
A tarefa do filósofo difere das dos outros, pois, em pormenor; mas não de um modo tão drástico como supõe quem atribui ao filósofo um ponto de vista privilegiado, fora do esquema conceptual de que se ocupa. Não há tal exílio cósmico. O filósofo não pode estudar nem rever o esquema conceptual fundamental da ciência e do senso comum sem ter um qualquer esquema conceptual, seja o mesmo ou outro, que não carecerá menos de escrutínio filosófico, no qual possa trabalhar. (Quine)
Eu diria que uma boa parte dos filósofos pode ser dividida em dois grandes grupos: o grupo daqueles que sustentam, explicita ou implicitamente, que podemos filosofar a partir de um ponto de vista sub specie aeternitatis, absoluto (a partir do "olho de Deus"), e o grupo daqueles que sustentam que isso não é possível. Eu me encontro, ou ao menos quero me encontrar, no segundo grupo de filósofos. Alguns, por nunca se dedicarem ao assunto sistematicamente, inadvertidamente parecem ora supor uma coisa, ora a outra, combinando momentos de anti-realismo, digamos assim, com momentos realistas. Seus momentos realistas são geralmente impulsionados por uma inclinação à reificação de abstrações, como aquele que, analogamente à pomba descrita por Kant, acredita que está descrevendo o mundo sublunar corretamente quando abstrai do atrito e da resistência do ar. Eu apenas acrescentaria: o atrito e a resistência do ar, no caso das reflexões filosóficas, são das nossas práticas.


2 comentários:

  1. Não é mesmo fácil atenuar o desejo de transcendência, o desejo de emancipação absoluta em relação a nós mesmos e a nossa própria humanidade que move os primeiros cegamente.

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    1. É por isso que a filosofia é tão difícil: nenhuma das duas posições é fácil de manter perante a outra.

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