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terça-feira, 22 de setembro de 2015

O charme incomum das verdades paradoxais

A escadaria impossível de Escher

A aparência paradoxal de certas afirmações que estamos inclinados a tomar como verdadeiras cria a ilusão de profundidade, e isso tem um apelo estético quase irresistível para alguns. A ilusão de profundidade provém da combinação de verdade e paradoxicalidade. Se a afirmação é verdadeira, embora paradoxal, isso nos induz a crer que a explicação de como isso é possível deve ser encontrada em um nível muito profundo de análise. É claro que aqueles que não conseguem ver profundidade na clareza estão mais sujeitos a essa ilusão... O apelo estético vem do caráter incomum dessa combinação de verdade e paradoxicalidade, que parece nos deslocar do ordinário, do comum, e nos levar ao limite da nossa compreensão, nos oferecendo o que parece ser um novo modo de ver coisas banais como uma escadaria, por exemplo, tal como a gravura da escadaria impossível de Escher o faz (ver imagem). Mas tudo isso desaparece quando podemos dizer a mesma coisa de uma maneira não paradoxal.

Infelizmente não é raro encontrar filósofos que conquistam o seu público por meio do apelo ao seu gosto estético pelo paradoxo. O caso menos pior é justamente quando fazem afirmações quase banais de modo paradoxal. Ao menos estas são verdadeiras. Pior é quando o gosto estético pelo paradoxo é o único fator nessa conquista, combinado com uma repugnância irracional pelo "senso comum". No fundo, essa atitude cognitiva assim estetizada, digamos assim, é a expressão de uma espécie de elitismo, da vontade de pertencer a uma classe privilegiada que não pensa como o ordinário. Pensar de forma paradoxal daria uma garantia extra para isso.


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