A criação do homem, por Michelangelo.
Na postagem anterior eu disse que a "filosofia é tão difícil quanto qualquer outra atividade intelectual, embora sua dificuldade esteja ligada a aspectos que lhe são peculiares". Mas eu não quis dizer que a dificuldade da filosofia seja apenas intelectual, como se nenhum fator emocional interferisse no trabalho filosófico. Eu acredito que em boa parte dos casos, o que impede o tratamento satisfatório de um problema filosófico são certos sentimentos, principalmente desejos e temores associados a certas imagens que atuam nos bastidores das reflexões e discussões. Um exemplo disso, creio, é a imagem do ser humano como radicalmente diferente dos demais animais, como pertencente a uma categoria única. Não quero entrar no mérito da questão aqui, mesmo porque essa imagem é suficientemente vaga para que em algum modo de entendê-la ela seja aceitável. O que quero ressaltar é que (e aqui eu novamente concordo com Wittgenstein) ela pode estar por detrás da rejeição de qualquer descrição da diferença entre nós e os demais animais como sendo uma diferença apenas de grau. Isso, me parece, é o que ocorre na negativa de que animais possuam crenças ou pensem. Podemos dizer que animais crêem, diz-se (e se costuma colocar aspas em "crêem"), mas não no mesmo sentido que dizemos que nós cremos. Como disse, não quero entrar no mérito da questão. A última tese pode até estar correta. O ponto é que muitas vezes ela é defendida não porque é correta, ou não apenas por isso; mas porque ela se ajusta a uma imagem que expressa nossos desejos e temores. Nesse caso é o desejo de ser diferente dos demais animais, o medo de não ser especial. E não notar isso impede que o filósofo considere satisfatoriamente o que seu interlocutor está dizendo. E é difícil notar isso e deixar de se influenciar pelo caráter cativante dessas imagens, pois elas estão ligadas a maneiras muito gerais de se ver o mundo, a vida.
Esquema da origem do homem, segundo a Teoria da Evolução.
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