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quinta-feira, 25 de junho de 2009

da Costa

Quando iniciei meu curso de graduação em filosofia, o primeiro texto que me foi indicado para ler, na disciplina de lógica, foi "A Superação da Metafísica Mediante a Análise Lógica da Linguagem", de Rudolf Carnap (lógico e filósofo analítico que pertenceu ao Círculo de Viena), um texto em que Carnap não fala muito bem de Heidegger, para dizer o mínimo. Também foi indicada a leitura da introdução de Introdução à Lógica Elementar com o Símbolo de Hilbert, de Newton C.A. da Costa e Rejane Carrion. Nessa introdução, os autores falam das lógicas não-clássicas, dentre as quais está a lógica paraconsistente. Lembro que fiquei muito impressionado com a lógica paraconsistente (uma lógica na qual nem toda inconsistência é trivial e, por isso, pode ser usada para se fazer inferências a partir de teorias inconsistentes[*]), especialmente por causa das perguntas instigantes do professor de lógica, uma das quais ainda lembro: como devemos entender a racionalidade a partir dessa lógica? Esse professor de lógica era Róbson Ramos dos Reis, um especialista em Heidegger... Me sinto afortunado pelo fato que, mesmo não sendo especialista em lógica e estar estudando um autor nem sempre bem tratado pela filosofia analítica, meu professor de lógica percebeu a importância de Carnap e dos desenvolvimentos mais recentes da lógica para expor seus alunos a eles. Me senti assim, afortunado, quando hoje falei com um estudante graduado em filosofia que nunca tinha ouvido falar em Newton da Costa. Eis que hoje tive o grande prazer de finalmente conhecer o autor daquele pequeno livro de introdução à lógica que me impressionou tanto no início da minha vida acadêmica. Assisti a uma palestra do Prof. Newton da Costa na UFPR. Ele falou muito e de forma contagiantemente apaixonada sobre filosofia (linguagem, verdade, ciência, metafísica). Mas sua palestra não foi no Departamento de Filosofia. Foi no Departamento de Matemática... Mas o convite foi feito e ele aceitou amavelmente realizar, em breve, um trabalho no Departamento de Filosofia.

A obra do Prof. Newton da Costa é reconhecida internacionalmente, tanto em lógica quanto em filosofia da lógica, como atesta o verbete Paraconsistent Logic da Stanford Encyclopedia of Philosophy, na qual Graham Priest, um importante filósofo da lógica contemporâneo, cita algumas obras de da Costa e o aponta como um dos criadores da lógica paraconsistente.

Aqui se pode ler uma entrevista do Prof. Newton da Costa.

Eros de Carvalho também assistiu à palestra e comentou aqui.

[*] Uma teoria inconsistente é uma teoria da qual se pode inferir uma proposição e sua negação (p e não-p). Uma teoria trivial é uma teoria da qual se pode inferir validamente qualquer proposição. Segundo a lógica clássica (na qual valem os princípios de identidade, do terceiro excluído e de não contradição), toda inconsistência é trivial, ou seja, de toda teoria inconsistente, se pode inferir validamente qualquer proposição. Por isso, nenhuma teoria incosistente, segundo a lógica clássica, é informativa. Mas na lógica paraconsistente, nem toda teoria inconsistente é trivial e, por isso, algumas teorias inconsistentes são informativas.

8 comentários:

  1. Alexandre,

    parabenizo-o pela postagem. O Prof. da Costa, que neste ano está completando 80 anos de idade, é uma pessoa cuja paixão pela Lógica, pela Filosofia, pela Matemática, pela Física, enfim, pelo saber, contagia a qualquer um que o conheça pessoalmente. Isso para não falar da importância, local e universal, de suas contribuições.

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  2. Frank: Obrigado. Sem dúvida ele é contagiante. E é incrível como ele parece ter a energia mental de um jovem. Ele também combina bem no seu estilo provocação, humor e receptividade. Abraço.

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  3. No link abaixo tem uma entrevista com o prof. Newton da Costa.

    E nesse mesmo programa "Itajuba em Foco", há outras entrevistas sobre a lógica paraconsistente.

    http://www.youtube.com/watch?v=HZgrkHfdhkg

    Abraços!

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  4. Caro professor Alexandre, provavelmente esse não é o espaço ideal para estas palavras mas, gostaria de dizer que seu blog tem sido uma referência para meus estudos ainda de graduando. Em poucos espaços os graduandos de filosofia, acredito que não só os soteropolitanos, podem presenciar posts que valem mais do que muitas aulas presenciais. Meus parabéns de seu ex-aluno e acompanhante assíduo do seu blog. Sei que elogios não servem para muita coisa, mas, acredito que dessa maneira expresso meu contentamento em relação ao seus posts e dedicação inspiradora para com a filosofia.

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  5. Felipe: Obrigado pela dica. Já tinha visto esse vídeo por indicação do blog do Eros.

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  6. Thiago: Fico muito contente com tua manifestação. Não por causa do elogio em si, mas por saber que, mesmo de longe, estou conseguindo ser de alguma utilidade. É verdade que elogios não servem para corrigir os erros. Mas certamente servem de estímulo para continuar. Muito obrigado.

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  7. Olá Alexandre,

    Como o Thiago, estou aqui pra elogiar a ti e a teu professor. Newton da Costa é um grande filósofo, coloco-o no nível de um Quine ou um Kripke, e não consigo entender o mistério de pq não há tanta produção sobre o trabalho dele quanto o daqueles. A única coisa que me ocorre em resposta é fato de que ele é brasileiro e os outros não.

    O fato de estares divulgando ele aqui e de o teu professor ter te apresentado a ele são, ambos, dignos de loas.

    Parabéns a ambos.

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