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quarta-feira, 15 de abril de 2009

Expressivismo


(esq. p/ dir.) Eros, Lúcio, Raphael e eu

Ontem dei uma aula inaugural na UFPR. Falei sobre o expressivismo acerca das manifestações, isto é, das frases em primeira pessoa do presente do indicativo que contém um verbo psicológico, tal como "Eu sinto dor". Tentei mostrar que o expressivismo de Wittgenstein concilia o caráter apofântico (o caráter de ter um conteúdo que é ou verdadeiro ou falso) com o caráter não-cognitivo das manifestações. Apresentei também uma crítica à teoria de Dorit Bar-On para explicar o caráter cognitivo das manifestações. Minha crítica consistiu em mostrar que, segundo a teoria de Bar-On, o fator de verdade (truth maker) das manifestações (sentir dor, no caso de "Sinto dor") é a mesma coisa que o seu justificador (sentir dor). Isso implicaria que faria sentido dizer "Eu sei que sinto dor porque eu sinto dor". Entretanto, o meu amigo, professor Eros Carvalho, apresentou uma objeção que, naquele momento, me pareceu fatal ao não cognitivismo. Ele chamou atenção para o fato de algumas vezes desviarmos a atenção de uma dor, justamente para que não soframos muito com ela. Continuamos a sentir a dor, embora nossa atenção esteja dirigida a outra coisa. Se alguém nos pergunta se sentimos dor, parece que o que fazemos para responder é um ato epistêmico, dirigir a atenção para a dor. Esse ato justificaria nossa manifestação "Sinto dor", mas seria diferente do seu fator de verdade. Se se trata mesmo de um ato espistêmico que justifica a manifestação, então parece que as manifestações são cognitivas (ao menos esse tipo). Mas há uma série de perguntas que deveriam ser respondidas antes de se concluir que esse argumento é decisivo. Em postagens futuras vou formular algumas dessas perguntas.

Um comentário:

  1. Tenho a impressão de que talvez se possa bloquear o argumento pró-cognitivismo pelo argumento do Wtitgenstein contra a linguagem privada. Se lemos a justificação de "Eu estou com dou" como baseada no conhecimento direto que tenho da minha dor, temos de explicar como se dá este conhecimento ou que tipo de relação privilegiada é esta que tenho com a minha dor. Tradicionalmente, o conhecimento direto de X envolve a pressuposição de que o sujeito é capaz de reconhecer, em diferentes encontros com y, y2, y3..., que y, y2 e y3 são instâncias de X, onde X, por exemplo, pode ser a dor. Ora, esta pressuposição é justamente atacada pelo argumento de Wittgenstein contra a linguagem privada. Há de se ver se há outra leitura para o conhecimento direto que não dependa dessa capacidade não-linguística de reconhecer particulares como sendo de um determinado tipo.
    Eros

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