Eis como Geirsson reconstrói sumariamente os argumentos de Evans para a tese que o Frege maduro admitia proposições dependentes de objetos:
(1) O argumento dos modos de apresentação. Um modo de apresentação, de acordo com Frege, é associado a um nome dando a ele o seu sentido. Mas um modo de apresentação tem que ser uma apresentação de algo. No caso de termos vazios não há nenhum objeto denotado, portanto não há nenhum modo de apresentação. Portanto, nomes vazios não têm nenhum sentido.[1]Geirsson, Heimir. 2002, "Frege and Object Dependent Propositions", Dialectica, vol. 56, n°4, pp. 299-314.
(2) O argumento da lacuna semântica [semantic gap]: Frege tentou construir uma teoria do significado de acordo com a qual o significado semântico do todo depende do significado semântico das suas partes. Mas termos vazios não contribuem com um valor semântico para as proposiçôes expressas por frases nas quais eles ocorrem. Portabto, há um grupo de frases às quais a tese de Frege que o valor semântico da frase é determinado pelo valor semântico das suas partes não se aplica. E essa posição, Evas sustenta, mal é inteligível (Evans, 1982, p. 22). E dado que deveríamos evitar atribuir uma interpretação que mal é inteligível a Frege quando uma interpretação "mais inteligível" está disponível, deveríamos adotar a interpretação "mais inteligível", a saber, a interpretação de Evans.
(3) O argumento da lacuna de valor de verdade. Frege sustentou a tese que a linguagem admite lacunas de valor de verdade, isto é, que há frases que, em virtude de conterem nomes vazios, não são nem verdadeiras, nem falsas. Se isso é assim, então considere a seguinte possibilidade. Suponha que haja uma linguagem científica que contenha um operador de negação, 'neg'. Se a linguagem contém uma sentença Fa, onde 'a' é um nome próprio vazio, que expressa um pensamento que não é verdadeiro, então não há nada que impeça 'neg Fa' de ser verdadeira. Mas dado que Frege aceitou o princípio que se uma frase S não tem valor de verdade, então nenhuma inclusão [embedding] de S pode ser verdadeira, ele necessita encontrar um modo de negar que 'Fa' é verdadeira, o que, de acordo com Evans, ele pode fazer apenas sob a interpretação de Evans. (Evans, 1982, p. 24)
(4) O argumento do Frege I maduro. Frege I [o Frege da Begriffsschrift] tinha uma teoria do significado madura e o Frege posterior deveria ser interpretado soba a luz dessa teoria do significado. Quando fazemos isso, temos que reconhecer que, dado que Frege I aceitou proposições dependentes de objetos, do mesmo modo o fez o Frege posterior.[2]
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[1] Uma versão desse argumento pode ser encontrada em Evans, p. 22.
[2] David Bell [1990] apresenta a visão de Evans na forma de dez teses atribuidas a Frege, e sua discussão subsequente trata de dois dos argumentos apresentados aqui. Bell fornece evidência textual contra o argumento dos modos de apresentação, mas não consegue notar que Evans tem uma poderosa réplica que necessita ser tratada. Bell também trata da alegação de Evans que se a não existe então 'a é F' não tem significado. Aqui Bell também subestima os recursos de Evans, pois em acréscimo à evidência textual, Evans também se baseia em intuições pré-teóricas sobre como deveríamos ler sensatamente Frege.
Referências
Bell, D. 1990, “How Russellian was Frege”, Mind, pp. 267-277.
Evans, G. 1982, The Varieties of Reference, ed. J. McDowell, New York: Oxford University Press.[Geirsson, 2002, pp. 305-6]
Em futuros posts, a crítica de Geirsson a esses argumentos.
Foto: Heimir Geirsson
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