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quarta-feira, 3 de janeiro de 2018
O paradoxo dos corvos
O paradoxo dos corvos ou paradoxo da confirmação é um paradoxo que surge no interior da teoria da confirmação formulada por Carl Hempel. Uma teoria da confirmação é um análogo indutivo de uma teoria formal da validade dedutiva. Uma teoria formal da validade dedutiva procura mostrar que a validade dedutiva, ou a relação de consequência lógica, deve-se exclusivamente à forma das proposições, e nada ao seu conteúdo. Analogamente, uma teoria da confirmação procuraria mostrar que a relação entre uma teoria ou hipótese de conteúdo empírico e a evidência empírica disponível para ela é puramente formal, devida exclusivamente à forma das proposições empíricas.
Teorias ou hipóteses com conteúdo empírico são generalizações empíricas do tipo "Todos os corvos são pretos", por exemplo. Uma evidência que confirma tal hipótese é uma instância dessa generalização, tal como "Isto é corvo e é preto", por exemplo. As instâncias da generalização confirmam a hipótese, mas não a provam, pois a inferência contendo as instâncias como premissas e a hipótese como conclusão é sempre dedutivamente inválida. Agora, "Todos os corvos são pretos" equivale à sua contrapositiva, a saber, "Tudo que não é preto não é corvo". Portanto, tudo que confirma essa última hipótese, a saber, instâncias da forma "Isto não é preto e não é corvo", confirma a primeira. Mas uma instância dessa forma é, por exemplo, uma em que "Isto" se refere a uma maçã, ou a uma porção de grama. Portanto, o fato de que uma maçã não é preta e não é corvo confirma a hipótese que tudo que não é preto não é corvo e, por isso, confirma a hipótese de que todo corvo é preto. Mas essa conclusão é extremamente contra-intuitiva, embora pareça se seguir validamente de premissas aparentemente verdadeiras, pois nossa intuição diz que apenas fatos sobre corvos podem confirmar ou infirmar a hipótese de que todos os corvos são pretos. Qual seria a relevância de maçãs vermelhas e gramas verdes para a hipótese de que todo corvo é preto? Como tais fatos sobre maçãs e grama podem nos ajudar a obter informação sobre corvos?
Parece que conceber a relação de confirmação em termos puramente formais é uma das fontes do paradoxo. Seja com for, seja qual for a solução do paradoxo, se ela está de acordo com o projeto de Hempel de uma teoria puramente formal da confirmação, ela não pode ser baseada uma concepção conteudística da relação de confirmação.
Há quem acredite que a solução do paradoxo está em se aceitar a conclusão: gramas verdes são evidência para a hipótese de que todos os corvos são pretos, apesar de isso ser contra-intuitivo.
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Mas uma teoria da confirmação deve contar com dados empíricos, logo não pode esta confirmação depender apenas da forma lógica e da validade lógica. Que interesse tem dizer que as mação não são pretas por isso não são corvos quando a primeira evidência é que elas não são corvos?
ResponderExcluirO problema é justamente o que conta como dado empírico relevante. A teoria é formal e, por isso, a evidência relevante para a tese de que todos os corvos são pretos é a de que a grama é verde, pelas razões aduzidas. Para lidar com o paradoxo, ou vc rejeita alguma premissa, ou a validade do raciocínio ou a falsidade da conclusão. Vc está tentando fazer a última, mas ainda falta o argumento.
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