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sexta-feira, 1 de julho de 2011

"Não sei o que quero"

Algumas vezes dizemos "Não sei o que quero". Mas o que significa isso? Essa é uma afirmação epistêmica sobre o conteúdo da nossa mente? É uma confissão de ignorância sobre os produtos da nossa faculdade volitiva? Geralmente quando dizemos isso estamos numa situação de conflitos de vontades. Nessa situação, queremos duas ou mais coisas incompatíveis. Dois objetos da vontade são incompatíveis quando não podem ambos serem realizados. Por exemplo: posso querer morar numa determinada cidade, A, por certas razões, e também morar em outra cidade, B, por outras razões. Isso é perfeitamente possível; tão possível que às vezes queremos duas coisas que não sabemos que são incompatíveis, como realizar uma ação que não sabemos ser ilegal e não ser punido pela lei, por exemplo. Pois bem, diante de uma tal situação de um consciente conflito de vontades, podemos ficar em dúvida sobre qual das vontades conflitantes é a mais forte, que impele mais. Por isso, podemos expressar essa dúvida justamente dizendo "Não seio o que quero", que seria uma espécie de abreviação de "Não sei o que mais quero". E numa tal situação, pode-se descobrir que, fazendo abstração das razões, o que se mais quer é morar em A, embora haja mais razões para se morar em B. Nesse caso, podemos escolher entre seguir o impulso da vontade irracional ou seguir a razão. Esse é o conflito entre o que se mais quer e o que se deve fazer. É claro que se a vontade de fazer o que é mais racional prevalecer, podemos dizer que essa foi a vontade mais forte. Mas isso não impede que, fazendo-se abstração das razões, a vontade irracional seja a mais forte. Às vezes, mesmo fazendo-se abstração das razões, a vontade irracional é mais fraca. Em suma, se usada dessa forma, a frase "Não sei o que quero" é uma confissão de ignorância não sobre o que queremos, mas sobre o que mais queremos.

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* Texto redigido a partir de uma conversa com Laiz Fraga.

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