Fórmula na notação lógica criada por Frege |
Por um lado, a lógica formal é realmente uma disciplina altamente técnica, tal como a matemática. Por outro lado, de fato não se pode resolver os problemas filosóficos fazendo cálculos lógicos. Mas disso podemos concluir que a lógica formal é inútil para a filosofia apenas se pensarmos que sua utilidade filosófica somente pode estar na resolução de problemas filosóficos por meio de cálculos lógicos. A importância da lógica para a filosofia deve ser procurada em outro lugar. Um problema dessa situação é que uma avaliação criteriosa da importância da lógica formal para a filosofia somente pode ser feita por quem conhece ao menos os rudimentos dessa disciplina, coisa que os alunos do primeiro semestre somente conhecerão depois de cursarem a disciplina. Mas quero destacar algumas razões para justificar o estudo da lógica formal na filosofia, para que aqueles que estão se iniciando vão prestando atenção a esses aspectos ao longo dos seus estudos.
(1) Em primeiro lugar, estudar lógica formal é uma ocasião para exercitar a capacidade de raciocinar de maneira rigorosa e sistemática. Isso não quer dizer que essa capacidade não seja exercitada assim em outras disciplinas. Mas na disciplina de lógica (bem como nas ciências formais em geral) esse exercício é feito de modo mais explícito e controlado. A utilidade aqui é análoga à utilidade da matemática no ensino fundamental e médio. Nem tudo que se aprende lá têm uma aplicação imediata por parte do aluno nas atividades do seu cotidiano, ou mesmo em outras disciplinas. Mas o exercício de raciocínio que o estudo da matemática proporciona é certamente valioso.
(2) Em segundo lugar, o estudo da lógica formal proporciona uma melhor compreensão dos nossos conceitos lógicos fundamentais, seja por semelhança, seja por contraste com o que é apresentado em sistemas de lógica formal. Tais sistemas foram inicialmente criados para capturar o conteúdo dos nossos conceitos lógicos fundamentais. Mas alguns desses sistemas podem ser vistos ou como uma extensão ou como uma substituição do nosso esquema conceitual. Várias questões em filosofia da lógica e da linguagem se originam desse esforço para entender nossos conceitos lógicos a partir do trabalho da lógica formal. Muitos conceitos que, à primeira vista, não parecem ter muita relação com a lógica formal também receberam um tratamento formal, que resultou nas lógicas deônticas, temporais e epistêmicas, para citar apenas alguns exemplos. A lógica deôntica procura dar um tratamento formal ao conceito de permissibilidade. A lógica temporal, como o nome diz, procura dar um tratamento formal aos nossos conceitos temporais. A lógica epistêmica procura dar um tratamento formal ao conceito de conhecimento e conceitos relacionados
(3) Por fim, mas não menos importante, o estudo da lógica formal propicia a compreensão de alguns problemas filosóficos e de algumas teses filosóficas que surgem apenas com os resultados da construção de sistemas de lógica formal. Tais problemas e teses dizem respeito à natureza, condições e limites do nosso pensamento formal, e somente podem ser corretamente compreendidos por meio de um estudo da lógica formal.
Se alguém achar que essas não são boas razões para se estudar lógica formal em filosofia, então terá que oferecer as razões contrárias. Mas para isso, é claro, vai ter que conhecer no mínimo os rudimentos da disciplina.
Leituras
Logical form (Stanford Encyclopedia of Philosophy)
Logical truth (Stanford Encyclopedia of Philosophy)
Logical constants (Stanford Encyclopedia of Philosophy)
Logical constructions (Stanford Encyclopedia of Philosophy)
Modal logic (Stanford Encyclopedia of Philosophy)
Kurt Gödel (Stanford Encyclopedia of Philosophy)
Hilbert's Program (Stanford Encyclopedia of Philosophy)
Intuitionistic Logic (Stanford Encyclopedia of Philosophy)
Computability and Complexity (Stanford Encyclopedia of Philosophy)
Set Theory (Stanford Encyclopedia of Philosophy)
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* Agradeço ao professor e amigo Eros Carvalho por comentários e sugestões a uma primeira versão desse texto.
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