Enigma, a máquina usada pelos alemães durante a Segunda Gurre Mundial para codificar suas mensagens e que foi decifrada pelo matemático inglês Alan Turing. |
Erudição consiste em ter muitos conhecimentos (proposicionais).[2] Muitas vezes (embora não todas) esse conhecimento consiste simplesmente em saber o que um certo autor disse em um certo livro. Por exemplo: saber que Descartes disse "Je pense, donc je suis", no Discurso do Método. (Saber como é a frase de Descartes em francês é muito impressionante para alguns...) Outro exemplo consiste em saber que Wittgenstein disse, nas Investigações Filosóficas, que "os significado de uma palavra é seu uso na linguagem". Um erudito é capaz de falar sobre um assunto ou vários por horas, citando dezenas de autores e dezenas de livros, indo da física à literatura, da filosofia à matemática. (Conheço um entrevistador que ilustra bem esse tipo de caso...) Para quem acha que inteligência é o mesmo que erudição, isso vai ser uma exibição de inteligência. Mas inteligência é outra coisa.
Uma pessoa é inteligente quando é capaz de usar o conhecimento que tem, seja pouco, seja muito, para resolver problemas que podem ser resolvidos com esse conhecimento de que ela dispõe. Sendo assim, podemos pensar na possibilidade de dois tipos de casos: por um lado, uma pessoa pouco erudita e inteligente, por outro, uma pessoa muito erudita e pouco inteligente. Nesse sentido, num caso extremo, um vendedor de picolé analfabeto pode ser mais inteligente que um uma pessoa pós-graduada, pois ele pode saber usar o pouco conhecimento que tem de uma forma melhor que aquela de uma pessoa pós-graduada, que faz quase nada com o muito conhecimento que possui.
No trabalho filosófico acadêmico (e no trabalho acadêmico em geral), principalmente entre estudantes iniciantes (mas, infelizmente, também entre alguns professores), a confusão entre erudição e inteligência tem várias manifestações. Quem confunde as duas coisas tende a acreditar que um texto que não cite vários filósofos famosos não é um bom texto filosófico. Uma tal confusão também leva freqüentemente à suposição que a justificação de uma afirmação (seu "embasamento" ou "fundamentação") consiste simplesmente em se citar uma passagem de um livro de um autor famoso em que ele faz a mesma afirmação. É claro que se essa citação contém um argumento, cuja conclusão é a afirmação que se quer justificar, e aquele que cita aceita o referido argumento, então a citação não é apenas demonstração de erudição. Mas ela será também uma demonstração de inteligência conforme for a competência que aquele que cita o argumento tem de explicá-lo, justificar suas premissas e defendê-lo de objeções. É claro também que, se a afirmação que se quer justificar é sobre o que um certo autor disse, então a citação não apenas é útil mas indispensável. Mas afirmações sobre o que um autor disse não são afirmações filosóficas... são afirmações histórico-exegéticas. Mas também em discussões sobre esse tipo de afirmação se pode exibir inteligência (mais erudita ou menos), ou apenas erudição... O apelo à autoridade pode ter um papel legítimo numa discussão filosófica (ou em outra discussão qualquer). Mas esse papel é limitado. Uma afirmação não é verdadeira porque uma autoridade no assunto (ou várias) a fez. Mas o fato de tê-la feito pode ser aventado como um meio de, por exemplo, fazer nosso interlocutor levar mais a sério o que estamos falando, se não estiver levando. Mas se, ao sermos perguntados sobre como a autoridade em questão justifica essa afirmação, nós não tivemos uma resposta, então não podemos exigir que nosso interlocutor concorde conosco apenas porque a autoridade fez a mesma afirmação. Isso seria cometer a falácia do argumento de autoridade. É claro, também, que uma pessoa não está justificada em pensar que a afirmação da autoridade em um assunto citada por nós seja injustificada apenas porque não soubemos apresentar a justificação que essa autoridade apresenta para sua afirmação (na suposição de que exista tal justificação). Nesse caso, podemos dizer: "Eu não lembro da justificação que ele apresenta. Mas leia o livro dele que você vai ver qual é." Mas isso significa admitir que não soubemos justificar a mesma afirmação, se tudo o que soubemos fazer foi citar...
O apelo à autoridade pode ter outro papel epistêmico legítimo. Se eu afirmo que estou com uma certa doença, por exemplo, e alguém me pergunta "Como você sabe?", eu posso dizer "O médico me disse". Nesse caso, não estarei sendo falacioso. Estou apelando para o conhecimento de uma autoridade para justificar minha afirmação de que sei. Mas se me for perguntado "Como o médico sabe", não posso mais fazer o mesmo tipo de apelo. Analogamente, se, ao afirmar que o significado de uma palavra é seu uso na linguagem, eu citar Wittgenstein e alguém me perguntar "Como Wittgenstein sabe?", não posso mais repetir o apelo à autoridade de Wittgenstein pra justificar minha resposta. Tenho que mostrar qual é a justificação que Wittgenstein oferece, para que meu interlocutor avalie se é ou não suficiente para o conhecimento.
Um trabalho filosófico é uma exibição de inteligência se o seu autor sabe lidar bem com problemas filosóficos: entende o problema (sabe explicá-lo), oferece uma solução (nem que seja parcial ou esquemática) e a defende como a melhor solução frente as demais já oferecidas, bem como de objeções. É claro que, para fazer isso em um nível acadêmico avançado, o filósofo vai ter de conhecer uma considerável porção do que já se publicou sobre o assunto e, portanto, no final, vai exibir erudição. Um trabalho filosófico erudito é, pois, uma exibição de inteligência, quando o seu autor sabe usar sua erudição para lidar com problemas filosóficos.
Erudição e inteligência não são coisas mutuamente incompatíveis, é claro. Quero apenas chamar a atenção para o fato de serem coisas distintas. O ideal é que sejamos inteligentes eruditos.
Já vi pessoas vinculando a inteligência à humildade. "Uma pessoa inteligente", dizem, "é humilde e não precisa se mostrar. Quem é arrogante e prepotente não é inteligente e precisa se impor pela arrogância e prepotência". É claro que, em alguns contextos, é uma atitude pouco inteligente ser arrogante e prepotente: numa entrevista para emprego, por exemplo... Mas isso de forma alguma é verdadeiro em todos os contextos. Não estou dizendo que em alguns contextos devemos ou podemos ser arrogantes e prepotentes. Acho que sempre devemos tentar evitar essa atitude. O que estou dizendo é que o fato de alguém geralmente ser arrogante e prepotente não implica que ele não é inteligente. Pode ser apenas uma infeliz combinação de excelência intelectual com pobreza moral.
Numa discussão filosófica, por exemplo, a pessoa que tem mais inteligência filosófica, ou seja, aquela que sabe lidar melhor com os problemas filosóficos debatidos (do modo descrito mais acima), pode ser a mais moralmente pobre. Para muitos ,parece errado atribuir algum tipo de virtude ou excelência a alguém que consideramos moralmente mau. Essa tendência a associar inteligência à humildade parece provir do seguinte raciocínio falacioso: Fulano é uma má pessoa; uma má pessoa não tem virtude; logo, Fulano não tem virtude epistêmica. A falácia aqui consiste em concluir que alguém não têm virtude epistêmica do fato que ele não tem virtude moral. Mas, infelizmente, pessoas más freqüentemente são inteligentes. E, infelizmente, pessoas boas, bem intencionadas, freqüentemente são pouco inteligentes.
É claro que, se formos arrogantes e prepotentes em um debate, podemos correr o risco de, por exemplo, não levar em consideração uma importante objeção ao que dizemos. E correr esse risco sem necessidade não é muito inteligente. Mas isso não é suficiente para concluir que um arrogante e prepotente em um debate filosófico (ou outro debate qualquer) está agindo assim porque é o interlocutor menos inteligente do ponto de vista filosófico. A despeito da arrogância e prepotência, ele pode ser o que melhor sabe lidar com o problema filosófico discutido. Quem associa de modo necessário a falta de humildade a erro teórico pode estar sendo pouco inteligente, pois pode deixar de concordar com seu interlocutor não-humilde em uma ocasião em que ele está com a razão.
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No trabalho filosófico acadêmico (e no trabalho acadêmico em geral), principalmente entre estudantes iniciantes (mas, infelizmente, também entre alguns professores), a confusão entre erudição e inteligência tem várias manifestações. Quem confunde as duas coisas tende a acreditar que um texto que não cite vários filósofos famosos não é um bom texto filosófico. Uma tal confusão também leva freqüentemente à suposição que a justificação de uma afirmação (seu "embasamento" ou "fundamentação") consiste simplesmente em se citar uma passagem de um livro de um autor famoso em que ele faz a mesma afirmação. É claro que se essa citação contém um argumento, cuja conclusão é a afirmação que se quer justificar, e aquele que cita aceita o referido argumento, então a citação não é apenas demonstração de erudição. Mas ela será também uma demonstração de inteligência conforme for a competência que aquele que cita o argumento tem de explicá-lo, justificar suas premissas e defendê-lo de objeções. É claro também que, se a afirmação que se quer justificar é sobre o que um certo autor disse, então a citação não apenas é útil mas indispensável. Mas afirmações sobre o que um autor disse não são afirmações filosóficas... são afirmações histórico-exegéticas. Mas também em discussões sobre esse tipo de afirmação se pode exibir inteligência (mais erudita ou menos), ou apenas erudição... O apelo à autoridade pode ter um papel legítimo numa discussão filosófica (ou em outra discussão qualquer). Mas esse papel é limitado. Uma afirmação não é verdadeira porque uma autoridade no assunto (ou várias) a fez. Mas o fato de tê-la feito pode ser aventado como um meio de, por exemplo, fazer nosso interlocutor levar mais a sério o que estamos falando, se não estiver levando. Mas se, ao sermos perguntados sobre como a autoridade em questão justifica essa afirmação, nós não tivemos uma resposta, então não podemos exigir que nosso interlocutor concorde conosco apenas porque a autoridade fez a mesma afirmação. Isso seria cometer a falácia do argumento de autoridade. É claro, também, que uma pessoa não está justificada em pensar que a afirmação da autoridade em um assunto citada por nós seja injustificada apenas porque não soubemos apresentar a justificação que essa autoridade apresenta para sua afirmação (na suposição de que exista tal justificação). Nesse caso, podemos dizer: "Eu não lembro da justificação que ele apresenta. Mas leia o livro dele que você vai ver qual é." Mas isso significa admitir que não soubemos justificar a mesma afirmação, se tudo o que soubemos fazer foi citar...
O apelo à autoridade pode ter outro papel epistêmico legítimo. Se eu afirmo que estou com uma certa doença, por exemplo, e alguém me pergunta "Como você sabe?", eu posso dizer "O médico me disse". Nesse caso, não estarei sendo falacioso. Estou apelando para o conhecimento de uma autoridade para justificar minha afirmação de que sei. Mas se me for perguntado "Como o médico sabe", não posso mais fazer o mesmo tipo de apelo. Analogamente, se, ao afirmar que o significado de uma palavra é seu uso na linguagem, eu citar Wittgenstein e alguém me perguntar "Como Wittgenstein sabe?", não posso mais repetir o apelo à autoridade de Wittgenstein pra justificar minha resposta. Tenho que mostrar qual é a justificação que Wittgenstein oferece, para que meu interlocutor avalie se é ou não suficiente para o conhecimento.
Um trabalho filosófico é uma exibição de inteligência se o seu autor sabe lidar bem com problemas filosóficos: entende o problema (sabe explicá-lo), oferece uma solução (nem que seja parcial ou esquemática) e a defende como a melhor solução frente as demais já oferecidas, bem como de objeções. É claro que, para fazer isso em um nível acadêmico avançado, o filósofo vai ter de conhecer uma considerável porção do que já se publicou sobre o assunto e, portanto, no final, vai exibir erudição. Um trabalho filosófico erudito é, pois, uma exibição de inteligência, quando o seu autor sabe usar sua erudição para lidar com problemas filosóficos.
Erudição e inteligência não são coisas mutuamente incompatíveis, é claro. Quero apenas chamar a atenção para o fato de serem coisas distintas. O ideal é que sejamos inteligentes eruditos.
Já vi pessoas vinculando a inteligência à humildade. "Uma pessoa inteligente", dizem, "é humilde e não precisa se mostrar. Quem é arrogante e prepotente não é inteligente e precisa se impor pela arrogância e prepotência". É claro que, em alguns contextos, é uma atitude pouco inteligente ser arrogante e prepotente: numa entrevista para emprego, por exemplo... Mas isso de forma alguma é verdadeiro em todos os contextos. Não estou dizendo que em alguns contextos devemos ou podemos ser arrogantes e prepotentes. Acho que sempre devemos tentar evitar essa atitude. O que estou dizendo é que o fato de alguém geralmente ser arrogante e prepotente não implica que ele não é inteligente. Pode ser apenas uma infeliz combinação de excelência intelectual com pobreza moral.
Numa discussão filosófica, por exemplo, a pessoa que tem mais inteligência filosófica, ou seja, aquela que sabe lidar melhor com os problemas filosóficos debatidos (do modo descrito mais acima), pode ser a mais moralmente pobre. Para muitos ,parece errado atribuir algum tipo de virtude ou excelência a alguém que consideramos moralmente mau. Essa tendência a associar inteligência à humildade parece provir do seguinte raciocínio falacioso: Fulano é uma má pessoa; uma má pessoa não tem virtude; logo, Fulano não tem virtude epistêmica. A falácia aqui consiste em concluir que alguém não têm virtude epistêmica do fato que ele não tem virtude moral. Mas, infelizmente, pessoas más freqüentemente são inteligentes. E, infelizmente, pessoas boas, bem intencionadas, freqüentemente são pouco inteligentes.
É claro que, se formos arrogantes e prepotentes em um debate, podemos correr o risco de, por exemplo, não levar em consideração uma importante objeção ao que dizemos. E correr esse risco sem necessidade não é muito inteligente. Mas isso não é suficiente para concluir que um arrogante e prepotente em um debate filosófico (ou outro debate qualquer) está agindo assim porque é o interlocutor menos inteligente do ponto de vista filosófico. A despeito da arrogância e prepotência, ele pode ser o que melhor sabe lidar com o problema filosófico discutido. Quem associa de modo necessário a falta de humildade a erro teórico pode estar sendo pouco inteligente, pois pode deixar de concordar com seu interlocutor não-humilde em uma ocasião em que ele está com a razão.
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* Agradeço ao amigo, Prof Eros de Carvalho, por importantes comentários críticos a uma primeira versão desse texto.
[1] Ver a postagem Definições e condições necessárias e suficientes.
[2] Para uma distinção entre conhecimento proposicional e conhecimento prático, ver a postagem Definição tradicional de conhecimento.
Alexandre,
ResponderExcluirMuito bom teu texto. Eu penso que a erudição serve como uma espécie de moldura da inteligência. Ela torna mais rico e atraente algo que, por si mesmo, já era bom. Podemos fazer um bom texto de teoria da poesia, por exemplo, mas se pudermos ilustrar com poemas de diferentes épocas, etc. o que dissermos ficará ainda mais bonito, ao passo que um texto erudito pode ser apenas interessante.
Abraço
flavio
Flávio: Obrigado. Sim, essa pode ser uma função da erudição, uma função didática. Ms não acho que seja a única nem a mais importante. Abraço.
ResponderExcluirÓtimo texto, professor.
ResponderExcluirAlém de tudo isso, atualmente os meios facilitam muito o acesso a informação duvidosa, ou à informação 'fácil' que nem sempre é confiável, criando uma geração de pessoas que, não só pensam que a erudição é a verdadeira inteligência, mas que na realidade, não possuem erudição alguma - possuem na verdade uma aparência de erudição.
Paulo: Sim, é verdade, pior do que confundir inteligência com uma mera exibição de erudição, é confundir isso com uma exibição de falsa erudição.
ResponderExcluirTexto bem esclarecedor!
ResponderExcluirCassol: Obrigado!
ResponderExcluirOi, Alexandre. E o que vc pensa sobre tipos de inteligência e erudição? Por exemplo, podemos ter erudição em música, artes plásticas, engenharia, física etc. Mas podemos ter inteligência nessas áreas?
ResponderExcluirRodrigo: Eu perguntaria: por que não podemos ter inteligência em engenharia e física? Quanto à música e às artes plásticas, eu perguntaria: essas são atividades cognitivas? Nelas a criatividade e a sensibilidade são importantes. Mas que tipos de problemas, nessas atividades, seriam resolvidos pelo uso da inteligência?
ResponderExcluirA teoria das inteligências múltiplas (IM) (Howard Gardner) define inteligência, entre outras coisas, como a habilidade para resolver problemas em determinadas áreas.
ResponderExcluirNisso ele separa a inteligência lógico-matemática (talvez a principal inteligência utilizada pela filosofia, junto com o que ele chama de inteligência linguística) de outras, como a musical ou cinestésica.
Então, cada uma das diversas inteligências possuem, dentro de seu campo de atuação, problemas a serem resolvidos. São atividades cognitivas.
Sendo assim, acho difícil alguém ter erudição musical, por exemplo, sem ter inteligência musical, pois conhecer conteúdo musical envolve, no mínimo, saber aplicar tal conteúdo.
Assim como ter erudição corporal-cinestésica sem ter inteligência corporal-cinestésica.
Acho que o termo erudição aplica-se quase que exclusivamente à linguística, por ser simplesmente a capacidade de armazenar muitos dados em uma memória e recuperar com habilidade, expondo de forma linguística.
Talvez a erudição seja ter muita inteligência linguística (utilizando a notação da teoria das IM), ou um grande potencial para esta inteligência, mas ter uma inteligência não significa ter outra, ou seja, ter a inteligência lógico-matemática, que é a definição padrão de inteligência desde antes das IM's.
Abraços!
Felipe: Obrigado pelo comentário. A definição de Garner de "inteligência" é a mesma que eu dei. Mas o que faltou na tua explicação é mostrar que tipo de problemas podem ser problemas cinestésicos e, principalmente, musicais. Quanto a chamar a erudição de uma inteligência lingüística, eu perguntaria: que tipo de problema eu resolvo ao simplesmente lembrar a altura do Monte Everest, por exemplo? Pode dizer: ah, responde à pergunta "Qual é a altura do Monte Everest". Mas isso tem tão pouca semelhança com o que eu quero chamar de inteligência que traria mais confusão que esclarecimento, eu acho. Não achas? Abraço.
ResponderExcluirEntendi.
ResponderExcluirOlhando a definição do Gardner, percebi que é uma disjunção:
Inteligência é "um potencial biopsicológico para processar informações que pode ser ativado num cenário cultural para solucionar problemas ou criar produtos que sejam valorizados numa cultura".
É algo que se processa, então de fato armazenar e recuperar com habilidade não seria a inteligência linguística.
O que ele chama de inteligência linguística é a capacidade de utiliar a lingua falada e escrita para atingir certos objetivos, e cita advogados, locutores, escritores, jornalistas, como exemplo.
Para mim, a erudição entra aqui. O entrevistador citado (também não gosto dele) tem muita informação, e quer queira quer não, sabe usar essa informação para atingir certos objetivos, como iludir as pessoas de que ele é inteligente e dixar sem graça pessoas mais despreparadas.
Os sofistas (que também eram bons em lógica) com certeza eram experts na inteligência linguística.
A inteligência musical é citada como que quase semelhante à inteligência linguística. O que muda é a linguagem apenas. Assim, a habilidade de se criar estruturas e padrões musicais para atingir um certo objetivo, como comover com sutileza as pessoas na cena final de um filme, é um tipo de "problema" solucionado pela inteligência musical.
A inteligência fisico-cinestésica envolve a habilidade de usar o corpo para resolver problemas ou criar produtos. Aqui, as artes marciais entram como exemplo. As possibilidades de sofrer lesões por conta de ataques inimigos são inúmeras. Aprender e desenvolver soluções de defesa e ataque, e estratégias para neutralizar o oponente, assim como o desenvolvimento de armas para isso são exemplo de problemas resolvidos pela habilidade fisico-cinestésica.
Para mim, a erudição é esta inteligência linguística. Claro, ser bom com as palavras, saber lembrar de muita coisa e utilizar isso de forma que pareça bonito, ou "inteligente", é uma habilidade que nem todos possuem. Mas não deixa de ser um tipo de inteligência.
Um exemplo: alguns savants possuem um cérebro fenomenal. Lí um caso de um savant que sabia de cor todo uma enciclopédia de música clássica: todos os compositores, história, datas, obras, quem interpretou o que e quando...
Mas ele não era erudito, pois não possuia a habilidade de usar essas informações. Só dizia se perguntado, por causa da deficiência.
Mas claro, como você disse em sua postagem, ter inteligência linguística não significa ter inteligência lógico-matemática.
O ideal é desenvolvermos ambas (e as outras também, se possível) as inteligências.
Felipe: Tu dizes que o referido apresentador "sabe usar essa informação para atingir certos objetivos, como iludir as pessoas de que ele é inteligente e dixar sem graça pessoas mais despreparadas.sabe usar essa informação para atingir certos objetivos, como iludir as pessoas de que ele é inteligente e dixar sem graça pessoas mais despreparadas." Eu não gostaria de discutir casos. Mas eu discordo sobre como julgas esse caso. Eu acho o referido apresentador erudito e burro (se compararmos sua erudição com seu grau de inteligência). Acho que ele passa por inteligente muito mais pela confusão que as pessoas em geral fazem entre erudição e inteligência do que pelo fato de ele usar o que sabe deliberadamente para aparentar uma inteligência que ele não tem. Ele está tão iludido que é inteligente quanto sua platéia.
ResponderExcluirFelipe: Eu acho que o savant é erudito. A diferença em relação a uma pessoa normal, é apenas essa (se houver): a pessoa normal sabe que a informação que ela tem é valorizada por alguns e a exibe para ser valorizado. Mas exibir informação não é usar ESSA informação para resolver problemas, pois o conteúdo da informação não importa, nesse caso. Tua idéia de uso da informação no simples ato de exibí-la é análogo ao uso de frases para decorar uma parede. Ai também o conteúdo não importa. Usar uma informação, no sentido em que estou falando, é o seguinte: se um sujeito soluciona o problema A por meio do conhecimento de que é o caso que P, então essa solução de A depende de que seja o caso que P. Se eu exibo erudição por meio da exibição do meu conhecimento que P e isso me faz parecer inteligente, eu poderia atingir o mesmo objetivo exibindo erudição por meio da exibição do meu conhecimento que é o caso que Q. Nesse caso, a solução do problema não depende de que seja o caso que P. Ela depende apenas de que que algumas coisas sejam o caso, eu saiba que são o caso e exiba esse conhecimento. Isso é diferente de provar um teorema a partir de P que não pode ser provado a partir de Q. Novamente, teu uso de "usar conhecimentos" oblitera diferenças que eu acho fundamentais. Teu exemplo seria melhor se dissesses que o malandro usa o seguinte conhecimento: as pessoas se impressionam muito com exibição de erudição. Nesse caso, ele estaria usando ESSE conhecimento, no sentido supra-definido, não aquele que ele exibe ao tentar impressioná-las. Não concordas?
ResponderExcluirProfessor, assim como a erudição pode ser adquirida, você acredita também que o inteligência pode ser ampliada ?
ResponderExcluirArmainimind: A inteligência não apenas pode ser ampliada como é. Fazemos isso ao exercitar a prática de resolver problemas.
ResponderExcluirFiquei sabendo deste texto hoje, em razão de uma indicação de um professor de Filosofia da Linguagem e Filosofia da Mente para quem enviei um questionamento sobre inteligência. Quero apenas deixar um agradecimento pelo bom texto assim como pelos bons comentários do autor.
ResponderExcluirTambém aproveito para deixar a posição que tenho, até o momento, sobre o que viria a ser inteligência, que não modifica muito o que é descrito no texto mas talvez possa servir para algum comentário. Assim, a minha posição no momento sobre inteligência seria a capacidade de compreender os elementos constituintes do meio onde se encontra e de, a partir da razão, ser capaz de escolher entre várias possibilidades, aquela que permitirá realizar uma determinada tarefa, tanto da maneira mais eficiente quanto também da maneira ética e considerando as consequências da realização da tarefa para com o meio e a si mesmo.
Olá. Muito legal sua reflexão.
ResponderExcluirHa alguns anos eu publiquei um livro que versa justamente sobre a "inteligência filosófica".
Sou da opinião de que erudição é útil, mas um homem que possui tão somente erudição nada mais é que uma enciclopédia falante. Transpor, porém, esta espessa fímbria que separa uma mente desperta de uma mente robótica requer não apenas um excedente de rebeldia, mas também coragem e amor pelo saber. Grande abraço!
Everton Spolaor - www.sombrasdarealidade.com.br
Obrigado!
ExcluirProf. Alexandre, gostei muito das reflexões. Vou acompanhar o blog!
ResponderExcluirAbraços,
Obrigado!
ExcluirMuito bom o texto. Vou usar na aula com uma turma do 2º ano do Ensino Médio.
ResponderExcluirObrigado!
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