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sábado, 11 de abril de 2015

Sobre a falibilidade moral e epistêmica do oprimido

Algumas pessoas não vão ver que o uso dessa
imagem procura representar a ato de atirar
no pé e nada mais! Elas vão apenas ver que
se trata de um homem, branco e não-pobre.
Em discussões na internet e fora dela, sobre diferentes assuntos, tenho batido em uma tecla nos últimos tempos: fins não justificam meios. Mas há uma outra tecla relacionada a essa em que eu tenho começando a bater também: um erro não justifica outro. Isso tem acontecido porque algumas pessoas que lutam por causas que acredito serem justas, principalmente contra a opressão que alguns grupos sociais exercem sobre outros, acreditam que tudo o que fizerem a favor dessa causa está justificado porque a causa é justa. Ou então, acreditam que se cometerem algum erro, esse erro está justificado porque estão lutando contra um erro maior. E tais pessoas costumam acusar qualquer um que tente apontar esses erros no seu modo de argumentar e de agir de estarem ajudando o lado errado, que em vez de criticar os erros cometidos na luta por uma causa justa, deveriam ajudar nessa luta, pois, afinal, os erros cometidos pelos que estão do outro lado são muito piores. Ou então, acusam seus críticos de darem mais peso aos erros dos que lutam pelas causas justas do que aos erros cometidos pelos que lutam contra essas causas, pelo simples fato de essas críticas não serem acompanhadas por críticas dos erros cometidos pelos que lutam contra essas causas, como se a crítica a quem luta por uma causa justa devesse ser antecedida de uma espécie de penitência epistêmica e moral.

Para mim, tudo isso é tão somente sinal de arrogância moral e intelectual, uma tentativa de se tornar imune à crítica, como se a justeza de sua causa garantisse infalibilidade intelectual e moral de quem luta por ela. Tais pessoas não admitem a possibilidade de melhorarem sua forma de lutar pela sua causa, pois melhora implica que o que se estava fazendo é passível de crítica. Pior que isso: algumas dessas pessoas simplesmente substituem um ódio por outro, como se a cultura do ódio não fosse problema, mas apenas o objeto desse ódio. É claro que se tais lutas não são pensadas como lutas racionais ou morais, mas como meras disputas pelo poder com base na força e na retórica persuasiva, sem compromisso com o bem e a verdade, então não importa mesmo avaliar moral e epistemicamente os meios que se usa para se atingir tais objetivos. Isso acontece também quando a luta por um certa causa é vista como uma vingança contra os que lutam contra essa causa, pois justiça nada tem a ver com vingança. Nesse caso, a idéia de que se está lutando por uma causa justa baseando-se em opiniões verdadeiras e justificadas foi abandonada.

Ajuda o lado errado quem luta por uma causa justa de uma forma epistêmica ou moralmente errada e se recusa a reconhecer esse erro. Melhorar uma luta com base na crítica é uma parte essencial dessa luta. E não importa de onde vem essa crítica, se de alguém contra a causa justa ou de alguém a favor a ela. Se podemos estar corretos numa crítica a quem luta contra nossa causa, quem luta contra nossa causa pode estar correto numa crítica a nós. É claro que a avaliação da pessoa que oferece a crítica pode ser diferente em ambos os casos. Mas se a crítica for a mesma, seu valor vai ser o mesmo.

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Esta é uma nota que escrevi no facebook em 2013, sob o título "Lutas erradas por causas justas".


Um comentário:

  1. Posso estar errado mas, me parece que Hitler foi um que começou sua empreitada com esta coisa de achar que tudo se justifica se a causa for justa. Deu no que deu!
    Pessoalmente nunca gostei de “bandeiras”. Deste o Ensino Médio que sempre vi as pessoas mais “politizadas” (no sentido deste levantar bandeiras em prol das causas que defendem – sejam quais forem) como um tanto imaturas. Mas não me entenda mal, não estou dizendo que não seja importante lugar pelo que se acredita, só penso que “como se luta” é que se torna fundamental, inclusive para ter relativo sucesso.
    Hoje em dia, com a internet, com a propagação de qualquer assunto em escala mundial, vivemos uma epidemia de “bandeiras”! Especialmente nos jovens. E penso ainda que vai além disso, há muita luta da “boca para fora”, ou baseada na ignorância.
    Eu fico pensando, todos os negros com o que sofreram na escravidão, e todos os tantos intelectuais levantando bandeira de “alforria”, e quando é que foram libertados? Quando o comércio entendeu que isso seria lucrativo! E ai vem as mulheres com todo o feminismo, e quando é que elas começaram a igualar as coisas? Quando fizeram a diferença como mercado consumidor assumindo status de “quem paga a conta”. Mesma coisa para os gays, opressão, opressão... Vida dura, trabalharam duro, viraram um mercado consumidor potente e agora temos “cidades gays para turismo”. Penso que se um grupo hoje quer diminuir o preconceito contra si, na prática, basta que ele se torne um mercado consumidor ativo em algum nicho de mercado. Pelo menos é o que parece resolver a coisa na prática.

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